
Transformação Digital e Investigação Académica dão nova vida à Indústria
A indústria de injeção de plásticos está a consolidar-se como um (...)
07 Outubro 2025
28 Maio 2025
A atual conjuntura económica e geopolítica mundial encontra-se num estado de transformação acelerada, impulsionada por decisões políticas e estratégicas que, embora à primeira vista possam parecer desafiadoras, oferecem oportunidades significativas para regiões industriais como Leiria. A imposição de tarifas pelos Estados Unidos sobre as importações europeias e o lançamento do plano "ReArm Europe" pela União Europeia são dois desses eventos que, se bem aproveitados, podem catalisar o crescimento e a inovação em setores como a indústria de moldes, metalomecânica, software e tecnologias emergentes.
Por Vítor Ferreira
Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 25 % sobre as importações de aço e alumínio europeus, além de ameaçar com tarifas de até 200 % sobre vinhos e outras bebidas alcoólicas da União Europeia, caso não sejam retiradas as tarifas aplicadas ao whisky americano. Esta medida, embora destinada a proteger a indústria americana, tem gerado preocupações significativas entre os exportadores europeus. Por exemplo, o setor vinícola espanhol expressou inquietação sobre o impacto potencial destas tarifas nas suas exportações para os EUA.
No entanto, em todas as crises podemos ver sempre oportunidades. Para a indústria de moldes e metalomecânica da região de Leiria estas tarifas podem ser vistas sob uma perspetiva diferente. O comportamento errático de Trump e Elon Musk tem gerado não só um efeito de procura interna na UE, gerando a necessidade de substituir fornecedores americanos por europeus, como também um novo fôlego para a indústria automóvel europeia, com a quebra de vendas da Tesla – desta forma abrindo novas oportunidades de mercado para as empresas locais. A indústria de moldes e metalomecânica pode adaptar-se para fornecer componentes especializados para setores que procuram alternativas aos fornecedores americanos. Além disso, a pressão para reduzir custos e aumentar a eficiência pode acelerar a adoção de tecnologias avançadas, como a fabricação aditiva e a automação, áreas onde as empresas de Leiria já demonstram competência.
Em resposta às crescentes ameaças geopolíticas e à necessidade de reforçar a autonomia estratégica, a União Europeia lançou o plano "ReArm Europe", uma iniciativa estratégica de defesa proposta pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a 4 de março de 2025. Este plano visa mobilizar até 800 mil milhões de euros para fortalecer as capacidades militares da União Europeia. A proposta inclui a suspensão das regras orçamentais da UE para permitir que os Estados-membros aumentem os gastos com defesa, potencialmente desbloqueando 650 mil milhões de euros ao longo de quatro anos, e a oferta de 150 mil milhões de euros em empréstimos para projetos conjuntos de defesa, como sistemas de defesa aérea e de mísseis.
Este investimento maciço representa uma oportunidade sem precedentes para diversos setores industriais e, mais uma vez, a indústria de moldes, plásticos e metalomecânica pode voltar a reinventar-se, como em momentos passados, através da sua inovação, posicionando-se para participar no desenvolvimento e produção de componentes para sistemas de defesa avançados. Além disso, o foco em tecnologias emergentes, como drones e cibersegurança, abre portas para empresas de software e tecnologia da região colaborarem em projetos de alta tecnologia – não esquecendo que drones (aquáticos, aéreos, terrestres) precisam de componentes plásticos e de outras partes que podem ser fabricadas em Leiria.
PARCERIAS ESTRATÉGICAS E INOVAÇÃO
Para capitalizar estas oportunidades é crucial que as empresas de Leiria estabeleçam parcerias estratégicas e se integrem nas cadeias de valor globais, sendo necessário um movimento estratégico de colaboração entre diferentes stakeholders. Instituições de ensino superior, como o Politécnico de Leiria, incubadoras de empresas, como a Startup Leiria, associações como a CEFAMOL e a NERLEI, centros de investigação e transferência de tecnologia e empresas necessitam de se juntar para facilitar o desenvolvimento de soluções inovadoras e a formação de talento qualificado.
Além disso, a atração de investimento de capital de risco para apoiar projetos inovadores será fundamental para impulsionar o crescimento e a competitividade da região.
Mas apesar destas oportunidades, existem desafios significativos.
Não é fácil entrar neste sector, que tem várias barreiras regulatórias e de compliance e também não é automático desenvolver novas competências centrais para fazer processos bastante diferentes do normal. Por outro lado, a concorrência internacional é feroz e outros países podem ter a vantagem da localização junto do centro europeu. Além disso, a formação de parcerias estratégicas e a integração em cadeias de valor globais requerem uma visão empresarial arrojada e uma aposta contínua na qualificação de recursos humanos. A combinação de uma indústria tradicionalmente forte com a capacidade de adaptação a novas tecnologias pode ser a chave para um futuro próspero. No entanto, é imperativo que empresas e instituições locais trabalhem em conjunto e inovem ainda mais.
Uma última palavra sobre talento. As políticas norte-americanas de “perseguição” de cientistas e universidades podem gerar uma fuga de cérebros. A Europa, Portugal e Leiria têm de saber posicionar-se, porque o capital humano e potencial tecnológico sempre fizeram a diferença no crescimento económico.
Vítor Ferreira é doutorado em Inovação e docente do ensino superior. Especialista em estratégia, inovação e novos modelos de negócio. Consultor e direção de projetos ligados à sustentabilidade, inovação e empreendedorismo. Fundador da Plan4Sustain e cronista na área de economia, é presença regular em conferências nacionais e internacionais sobre economia verde, indústria 4.0 e marketing sustentável. Atualmente, leciona no ISCTE e no Politécnico de Leiria, integrando também projetos de investigação em desenvolvimento sustentável.